quarta-feira, 6 de setembro de 2023

PRAÇA TIRADENTES - PARTE 1

  Hoje vou lembrar um texto antigo sobre a Praça Tiradentes de Conselheiro Lafaiete. 

  Nessa primeira parte vamos lembrar como era a antiga praça.

 

Praça Tiradentes,sem data (antes da reforma de 1935)

foto: Cópia de Mauro Dutra de Faria (original autor não localizado)

  Em 1979 o historiador Antônio Perdigão falou assim sobre essa praça localizada atrás da Matriz:

 " A aldeia do Campo Alegre de Nossa Senhora da Conceição dos Carijós, até por volta de 1740, se formava apenas pelo antigo Largo da Matriz e pequenos inícios de ruas como a dos Barrancos, a de saída para Congonhas do Campo, a da Chapada (que fazia parte da estrada da corte – Vila Rica) e o antigo caminho das bananeiras (que dava para a velha estrada que se dirigia à corte do império – Rio de Janeiro).

Neste local, o que mais depressa se povoou foi o grande quadrilátero que ficava atrás da igreja Matriz, com as residências dos fazendeiros e negociantes. Atrás da igreja passou a ser o espaço de construções, formando com o passar do tempo, uma espécie de prolongamento do Largo.

Há um registro que cita a Praça nova em 1790 no “Alto do Levantamento do Pelourinho na Real Vila de Queluz”, cujo texto relata que o Excelentíssimo Senhor Visconde General mandou levantar o Pilourinho da referida Villa, com solenidade para inaugurar a nova praça, que ficava no meio da Vila e era destinado para a Câmara e a igreja Matriz. As pedras que formavam as bases do Pelourinho são as mesmas que se encontram ainda hoje formando os degraus do chafariz da praça Barão de Queluz.

Na sessão da Câmara Municipal do dia 09/05/1906, foi feita a nomenclatura das ruas da cidade e este local ficou denominado Rua do Tira-Dentes, vindo do Largo da Matriz até a Capela do Carmo, e as dimensões da praça naquele ano eram bem diferentes das de hoje.

Do livro “De vila Real de Queluz à Conselheiro Lafaiete”, escrito por Antônio Perdigão em 1958, foi extraído o seguinte trecho: “Outro setor de estrita ligação com a vida queluziana é a praça Tiradentes, ali é um ponto culminante da vida da cidade, sendo palco de festas religiosas, carnaval, comícios políticos, retretas de bandas de música e até funerais. Está ligada à praça Barão de Queluz e é continuidade desta. Nasceu como pequeno caminho de ligação entre o povoado e as rotas das tropas que vinham de Itaverava. Os habitantes da vila procuravam fazer com que a praça fosse continuação do Largo, tendo a igreja Matriz ao centro. ”

Em tempos idos foi o local preferido para as personalidades residirem, uma das primeiras construções foi uma casa de pedra, localizada na entrada da rua Brasil, que pertenceu à família Alvarenga. No pátio desta casa, segundo relatam, foi guardado o material destinado à construção da igreja Matriz.

A rua Tiradentes era o ponto preferido do povo e da cidade. Na primeira esquina, atrás da Matriz, havia uma grande casa, de puro estilo colonial, onde residia João Chysóstomo de Queiroz, apelidado de “Seu Lalão”. Era chefe político, coletor, fazendeiro na região do Morro da Mina e grande incentivador das novidades e benfeitorias para a vila e a cidade.

No local onde havia a Drogaria Pereira, no coração da praça, existia uma casa enorme, ali residia um dos homens mais famosos de Queluz: José Albino de Almeida Cyrino, chamado de “Zeca Albino”. Ele foi presidente da câmara por diversas vezes e construiu o prédio onde funciona o Meridional Hotel. A velha casa do Zeca Albino foi transformada em botica, depois, em pensão, em sapataria, em casa de bicicletas, em armarinho até ser demolida, passando tempos depois a Drogaria Pereira.

Por volta de 1830 a Praça Tiradentes recebeu um melhoramento necessário, a construção da cadeia local. A construção foi demorada e foi necessário que a Câmara Municipal intervisse para que se cumprisse o acordo feito. Neste ano foi pedido pela Câmara ao governo provincial um empréstimo para tal construção e em 1866 foi feito novo empréstimo pela municipalidade. Em 1867 a câmara pede à província um engenheiro para a obra, que seria de dois pavimentos, sendo o térreo para a cadeia e o andar superior para casa da Câmara. Terminada a cadeia, o fiscal do estado embargou a construção da Câmara, houve protestos, mas nada adiantou e a Câmara ficou sem a sua sede própria.

Ao entorno da cadeia foram instaladas o armazém do Zeca Albino, pequenas oficinas de sapateiros, barbearias e farmácias. O primeiro negociante que ali se estabeleceu foi o português André Rodrigues, que construiu grande prédio comercial na esquina com a rua Afonso Pena, onde hoje está instalado o restaurante “ Novo Horizonte”. A casa do André foi uma das mais populares da época, ele era comprador de aves e ovos e exportava-os para o Rio de Janeiro. Carroças carregadas de engradados desciam à rua Afonso Pena com destino à estação ferroviária, e a esquina da praça com a rua Afonso Pena foi batizada pelo povo de “ Esquina do André”.

 Ali também funcionou o “Café Central” do Juvenil Meireles, o bilhar do Álvaro zebral, a pensão São Geraldo, a sapataria do Romeu Menezes e a Agência dos Correios na esquina da rua Comendador Lalão. Neste lugar nobre também residiam o jornalista Dr. Castilho Lisboa, o presidente da Câmara e chefe do executivo José Corrêa de Figueiredo, o médico Dr. Moretzson Barbosa, o promotor em Queluz Dr. Bulhões de Carvalho, o advogado Fábio Maldonado, além de outras personalidades. O tempo ia passando e a praça tornando-se palco de grande diversidade de eventos, sendo que em 1917 foi colocada a luz elétrica.

Na década de 20 já havia na praça um jardim arborizado com agradável sombra nos dias ensolarados, onde aos domingos as bandas Santa Cecília e Centro Operário faziam retretas que sempre animava e enchia a praça. No antigo solar do Campolina ficava a redação do seminário “Jornal de Queluz” e o Tiro de Guerra 405. Foi trazido também nesta década o Cinema Central e junto ao cinema havia o Bar Brasil, de propriedade do carnavalesco Braz Melilo Brandão. Era reduto do carnaval de rua da parte alta da cidade, era reduto também do futebol, pois ali era o ponto de encontro dos dirigentes e jogadores dos times da época, como o Vera Cruz, o Brasil, o Flamengo, entre outros.

A partir da década de 30 a praça começou a sofrer modificações, o governo progressista de Dr. Mário Rodrigues Pereira sentiu entusiasmo e capacidade para construir novas praças, calçamentos e reformas. Houve modificações também na área residencial e comercial, o senhor Benedito Alves instalou a Agência Chevrolet, de vendas de carros, ao lado da agência foi instalado um café, um bilhar com o nome “Bilhar do Mister”. A rua Brasil foi aberta em 1934 dando uma feição diferente ao logradouro. Na casa do velho Castelões, funcionário do fórum, o “Santinho” tirava fotografias de fatos e paisagens da terra. Também nesta casa residia o José Nicolau, alfaiate e caçador, proprietário da “Alfaiataria Leader”.

Em 1935 a praça foi modificada, foi construído um belo e alto coreto, obedecendo o estilo oriental. A inauguração foi noticiada pelo jornal “Queluz de Minas”, nº 72, de 03 de janeiro de 1935: “A Sociedade Musical Santa Cecília assumiu o encargo de promover a solenidade, a benção foi feita pelo vigário da igreja Matriz, padre José de Oliveira Barreto e o prefeito Dr. Mário Rodrigues Pereira fez belo discurso, inaugurando o coreto. (...)”

A praça continuou a ser o ponto dos acontecimentos, ali se realizavam as procissões de Encontro durante a Semana Santa, também era o ponto principal dos carnavais e de todos os tipos de comícios. Havia pontos de táxis com os alegres motoristas Chico Bóia, Rupiado, Mimi, Venâncio e outros; havia a carrocinha de sorvetes do Zé Pedro e o Cine Central com seus filmes e seriados.

Na década de 40 a praça embelezou-se com modificações na urbanização e arquitetura das casas. Em 31 de março de 1940 foi inaugurada a Fonte Luminosa pelo prefeito Dr. Mário Rodrigues Pereira. O belo ornamento foi encomendado ao técnico Antônio Corrêa Beraldo, de Pouso Alegre. A benção foi dada pelo Monsenhor Mário Silveira. A fonte constituía um lago de 8 metros de diâmetro, por 30 centímetros de fundo, tendo ao centro um pedestal artístico, e possuía 7 grupos de projetores primários, formando 14 desenhos de água, todos diferentes uns dos outros. A duração de cada desenho era de 20 segundos, um total de 280 segundos até completar o ciclo, a altura era variável, sendo o máximo de 7 a 8 metros. A projeção da luz de cor era feita por 12 projetores, sendo 4 vermelhos, 4 verdes e 4 amarelos, todos distribuídos e imersos no pequeno lago superior da fonte. Para o funcionamento havia na praça um maquinário: um grupo eletrobomba centrífuga com vazão de 18 mil litros de água por hora, motor de 3 H. P.

Na mesma época a praça ganhou um abrigo para ônibus, era espaçoso e com boa estrutura, sendo que se tornou ponto de encontro e por ele passavam os ônibus que subiam e desciam as ruas da cidade. À medida que a cidade crescia foram surgindo coisas novas na praça como os pontos de táxis. Perto da praça, na esquina com a rua Afonso Pena, foi inaugurado o majestoso prédio da prefeitura municipal. A casa que pertenceu aos Campolina foi demolida, e em seu lugar ficou um muro e botecos sem gosto, dando uma impressão ruim à praça. Passaram-se os anos e com a nova urbanização desapareceram os canteiros bem tratados, foram retirados os postes baixos com os globos brancos que causavam grandes efeitos, a fonte quase parada e a demolição do ponto de ônibus. É o progresso, inevitavelmente destruindo as memórias e a história."

Fonte: Jornal Panorama, Ano II, Setembro e Outubro de 1979

http://bibliotecalafaiete.blogspot.com/p/ruas-pracas-e-avenidas-da-cidade.html

NOTAS APÓS ESCRITA EM 1979

 O livro de Villa Real de Queluz a Conselheiro Lafaiete (pelas ruas da cidade) começou a ser escrito em 1958,mas foi lançado de forma oficial em 2007 pelo Grupo Lesma.  

Drogaria Pereira (hoje no local é o número 55 da praça) 

Esquina do André ,depois Bar Novo Horizonte (atual número 3 da praça)

CONTINUO A FALAR DA PRAÇA TIRADENTES NOS PRÓXIMOS ARTIGOS... 

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